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Le Soro está trazendo a energia dos festivais de Afro Dance para Nova York

Le Soro, um festival de dança criado por três poderosas dançarinas da região de Nova York, tem a missão de mudar a forma como o afro dance é compartilhado e consumido na cidade. Inspirado nos vibrantes festivais de afro dance da Europa, Le Soro quer trazer uma experiência semelhante para Nova York, com foco na autenticidade, na conexão e na celebração da cultura do African Street Dance.


A AfroConex conversou com as três fundadoras — Amilya, Tima e Alice — para conhecer melhor a visão, a história por trás do Le Soro e o que o público pode esperar da primeira edição, marcada para 6 de setembro.



AFROCONEX: Le Soro, obrigada por tirar um tempo para falar com a AfroConex. Parabéns pelo lançamento do Le Soro e por transformar essa ideia em realidade. Podem explicar o que é o festival Le Soro e a origem e o significado do nome?

LE SORO: Obrigada por nos receberem! Para o Le Soro é uma grande honra ser destaque na AfroConex — adoramos o seu trabalho.


A experiência Le Soro é uma celebração da cultura africana dentro da diáspora, expressa principalmente através da dança. Organizamos intensivos, campos de dança e cyphers, com o objetivo de expandir para eventos e festivais de grande porte que difundam a cultura e a dança africanas de forma autêntica.


Le Soro significa “o povo”. Le significa “o/a” em francês e Soro — pronunciado Sô-rro — significa “povo” em soninquê, um idioma falado na região saheliana da África Ocidental. Embora simples, este nome nos chamou atenção por um motivo: ele representa o que defendemos.


Começamos isso para nós — “nós” significando toda a diáspora — mas nunca será limitado apenas a nós, porque a música é uma linguagem universal. Não tem barreiras. A experiência que queremos criar vai estabelecer um padrão para que o afro dance seja respeitado, plenamente apreciado, preservado e mantido autêntico.



AFROCONEX: Vocês participaram e vivenciaram muitos festivais europeus de Afro Dance, que inspiraram o Le Soro. O que exatamente nesses festivais inspirou vocês e como isso vai aparecer no Le Soro?

LE SORO: Participar de diferentes festivais de Afro Dance, como Oyofe, AfroDrip, Afrohouse Germany e até AfroJam na Tailândia, nos deu um verdadeiro gostinho de como a diáspora africana celebra a cultura da dança africana. Uma das coisas que mais inspirou o Le Soro — especialmente nos festivais europeus — foi a sensação de união e a energia compartilhada entre dançarinos de diferentes origens, níveis e trajetórias, todos unidos pelo amor à cultura africana.


Estar juntos como dançarinos e artistas para compartilhar nossa paixão pelo afro dance é algo extremamente poderoso. Ficamos com uma profunda sensação de plenitude e inspiração — algo que só se entende plenamente quando se vive a experiência. Essa é uma das grandes razões pelas quais quisemos trazer isso para Nova York: queremos que os dançarinos aqui nos EUA sintam e vivam essa mesma unidade, energia e amor compartilhado pelo afro dance, mas em uma escala maior, no nosso festival.



AFROCONEX: As fundadoras do Le Soro vêm de diferentes origens culturais: Tima — Gâmbia, Amilya — Haiti, Alice — Nigéria. Como suas origens influenciam a forma como vocês veem e vivenciam a dança e o que os alunos vão sentir no Le Soro?


LE SORO – Tima:

Acho que de onde venho influencia profundamente a maneira como vivo a dança. Sou gambiana e cresci cercada de música — em casa, em casamentos e em encontros. Mas também cresci na cidade de Nova York. Se alguém entende diversidade, é o imigrante de primeira geração que cresceu no Bronx e foi exposto a muitas culturas desde cedo.


As semelhanças e diferenças entre culturas me encantam. Vejo o mundo de forma ampla; ele é muito maior do que aquilo que vivemos no dia a dia. Existem pessoas em todos os lugares que amam exatamente o que nós amamos.


Na dança, isso se traduz em uma apreciação genuína pela beleza de diferentes gêneros, especialmente os africanos. A cultura é muito rica e, dentro de cada nação, existem várias tribos — algumas focam nos ombros, outras no movimento da cintura, dos pés ou da cabeça. Cada uma tem seus próprios costumes e tradições que moldaram seus estilos de dança, e acho isso incrivelmente belo.


Isso me empolga, e tenho certeza de que existe alguém, em algum lugar do mundo, que sente o mesmo e vai se inspirar. Essa pessoa poderá se conectar com as diferentes aulas que oferecemos, que reúnem todas essas culturas maravilhosas de forma autêntica — e isso só fortalece nosso compromisso de preservá-las.



LE SORO – Alice:

A dança sempre esteve presente em todos os encontros, tanto nos momentos bons quanto nos ruins. Um dos artistas preferidos do meu pai durante a faculdade era Fela Kuti, e ele fez questão de passar essa música para mim durante a infância. Sem falhar, a música de Fela provoca uma explosão de movimento entre tias, tios e mais velhos nas reuniões de família — e agora também entre a geração mais jovem, por razões óbvias. Não é surpresa o quanto ele influenciou a evolução da música afrobeat.


Minha mãe, embora menos expressiva quanto ao amor pela música, foi membro ativa de um grupo de dança cultural Akwa Ibom quando eu era criança. Lembranças dos ensaios de Ekombie, realizados no porão da nossa casa, plantaram sementes dentro de mim. Desde cedo, soube que a dança e a música moldariam profundamente a forma como eu escolheria me apresentar ao mundo. Sou muito grata aos meus pais por me exporem a essas influências e, sem saber, mudarem o rumo da minha vida, valores e escolhas. Essa base continua me guiando e é por isso que criar espaços de alegria para a música e a dança africana, como o Le Soro, é como retribuir o presente que recebi.



LE SORO – Amilya:

Minha herança haitiana teve uma enorme influência no meu amor pelas artes, pela dança e pela música como um todo. Crescendo, minha mãe sempre nos ensinou — a mim e às minhas irmãs — que, embora morássemos nos subúrbios de Nova York, nossa herança haitiana estava no centro de quem somos e sempre faria parte de nós, não importa onde estivéssemos.


Fui exposta a muitas culturas diferentes enquanto crescia, o que influenciou minha afinidade por estilos de dança cultural. Além disso, minha mãe sempre enfatizou a preservação de nossas raízes, valores e da riqueza das artes e da cultura haitiana — e se tem algo que os haitianos adoram, é celebrar. Algumas das minhas memórias favoritas da infância são os encontros familiares, dançando e ouvindo músicas haitianas como Rara, Twoubadou e Konpa, e as lembranças vívidas de minhas irmãs e primos mais velhos me ensinando a dançar nas festas de família.


Quando entrei pela primeira vez no espaço do afro dance, me conectei imediatamente com a música e os movimentos de diferentes países e tribos africanas, por conta da grande influência que tiveram na cultura haitiana. Tanto africanos quanto haitianos valorizam a riqueza da celebração, através da dança, da música, da alegria e da união. E isso é exatamente o que quero que os dançarinos sintam no Le Soro.


AFROCONEX: Vamos falar sobre a cena do Afro Dance em Nova York. A pandemia realmente mudou esse cenário. Muitos professores que eram ativos na cidade se mudaram ou simplesmente pararam de dar aulas. Como isso impactou o afro dance na cidade e qual papel vocês veem para o Le Soro na forma como as aulas são oferecidas e consumidas?

LE SORO: As aulas e workshops sempre representaram mais do que apenas um lugar para aprender passos. Antes da pandemia de COVID-19 e do crescimento do TikTok, a música africana já era incrível como é hoje, mas não tinha as mesmas plataformas para alcançar tantas pessoas. Reunir-se e trocar energia antes, durante e depois da aula era algo natural aqui em Nova York; espero ver um retorno desse senso mais forte de comunidade.


O Le Soro pretende criar pontes entre os subgrupos que mantiveram o movimento vivo, ao mesmo tempo que cria espaço para que novos participantes se juntem à cena. Temos o compromisso de trazer instrutores que não apenas ensinem os estilos de dança com técnica, mas que também compartilhem seu contexto cultural, tanto de forma verbal quanto através do movimento.



AFROCONEX: Qual será o formato do festival? Os cartazes anunciam 5 instrutores e 8 horas de treino. Como o dia será estruturado e que conselho vocês dariam para que os alunos aproveitem ao máximo a experiência e consigam reter as informações compartilhadas?

LE SORO: O dia será dividido em blocos de aulas de 1 hora e 30 minutos. As portas abrirão às 10h30; depois das duas primeiras aulas, haverá uma pausa de uma hora. Em seguida, continuaremos com mais duas aulas, depois haverá a opção de os alunos participarem de um cypher e colaborarem, e, por fim, encerraremos com a última aula.


Acho que o melhor conselho para aproveitar ao máximo o intensivo é entender o seu “porquê” de estar aqui. Seja para se divertir, melhorar a técnica no afro dance, ampliar o vocabulário ou se conectar com outros dançarinos no mesmo espaço, defina isso logo no início do dia. Use esse propósito como ferramenta para manter o foco e a motivação durante as aulas.


O seu “porquê” é importante, porque toda informação só é útil se você souber para que vai usá-la e tiver clareza do que quer levar do nosso intensivo. E, por último, no aspecto físico: mantenha-se hidratado, descanse bem antes e use roupas confortáveis.



AFROCONEX: Nova York é o berço de muitos estilos afro-americanos. Que pontes vocês acham necessárias para criar sinergia e respeito entre os estilos nativos e os estilos que surgem nas comunidades africanas de primeira e segunda geração que chamam Nova York de lar?

LE SORO: Acho que precisamos de mais diálogo e compreensão sobre a rica história e cultura tanto dos estilos nativos quanto dos estilos de afro dance da diáspora. Criar mais espaços para educar os dançarinos sobre a história e a cultura de cada estilo — e entender que essas danças não são apenas uma “tendência” ou algo para participar momentaneamente porque está na moda — é essencial.


Cada estilo tem sua própria história e cultura, e deve ser tratado como tal. Dedicar tempo para se educar como dançarino e estudante é fundamental para realmente compreender e absorver a essência e a intenção da cultura — não apenas o movimento ou os passos. A dança é cultural. É política. Seu povo tem uma história, uma origem e uma mensagem.


Acredito que, especialmente nesta era de redes sociais e busca por visibilidade, essa verdade muitas vezes é ignorada ou esquecida. O Le Soro é uma forma de preencher essa lacuna — criando um espaço seguro para dançarinos de todos os níveis, culturas e origens aprenderem, se aprofundarem e se educarem sobre a história, a cultura e a riqueza dos estilos de dança africanos.



AFROCONEX: A composição étnica da diáspora africana na região de Nova York é muito diferente da de países europeus como França, Bélgica e Portugal. Como essa diferença étnica e cultural molda o Le Soro? E o que vocês diriam para alunos que não vêm dessas culturas e se sentem nervosos para aprender estilos que não conhecem?

LE SORO – Alice: O Le Soro reflete os estilos moldados pelas pessoas que vivem na área de Nova York, assim como pelos diferentes encontros que surgem desse caldeirão cultural. Como nigeriana de primeira geração, estou sempre aberta e ansiosa para aprender com culturas diferentes da minha, e acredito que muitas pessoas no espaço do afro dance compartilham essa mentalidade.


Para os participantes que possam se sentir distantes da cultura, incentivo a mudar o foco e deixar de lado a sensação de “ser de fora”. Em vez disso, veja-se como um estudante — aberto a aprender e explorar o que espera obter. Essa perspectiva pode ajudar a acalmar os nervos e permitir que você esteja totalmente receptivo a tudo que o dia tem a oferecer.



AFROCONEX: Muitos festivais de dança vêm e vão. Quais são as esperanças de longo prazo para o Le Soro? Como vocês imaginam que ele vai crescer e evoluir nos próximos 3 a 5 anos?

LE SORO: É verdade! Nosso objetivo a longo prazo é receber 500 estudantes ou mais de todo o mundo para viver a experiência Le Soro. Queremos continuar mantendo altos padrões no espaço do afro dance — especialmente com o seu crescimento na cultura pop — para que a informação não seja apenas compartilhada de forma autêntica, mas também correta. Preservar a autenticidade das danças africanas é extremamente importante para nós.


No fim das contas, queremos criar um espaço único para aprendizado, crescimento e aperfeiçoamento, mas também para conexão — porque todos podem ser estudantes.


Nossa estratégia para alcançar essas metas começa tendo conversas difíceis: fazendo as perguntas certas abertamente e trazendo diferentes perspectivas para nossas comunidades. Em segundo lugar, buscamos conectar a diáspora nas Américas, Europa e África, realmente criando pontes. Isso inclui trazer professores respeitados de diferentes culturas para transmitir informações precisas, para que os participantes possam aprender, crescer e vivenciar a autenticidade das culturas que tanto amam.



AFROCONEX: Como mulheres liderando essa iniciativa, vocês encontraram desafios ou oportunidades únicas ao lançar um festival nessa comunidade?

LE SORO: Passamos por algumas tentativas de intimidação ou de pessoas tentando se aproveitar de nós durante a organização do Le Soro. Sabemos que, como mulheres, infelizmente isso é algo que podemos encontrar, mas escolhemos não nos concentrar nisso. Sabemos que existe força em lançar uma iniciativa como esta e temos clareza sobre qual é a missão do Le Soro. Isso nos mantém firmes e em constante evolução, e esperamos inspirar outras mulheres a fazer o mesmo.



AFROCONEX: Qual é a principal coisa que vocês esperam que cada participante sinta ou compreenda após participar do Le Soro?

LE SORO: Queremos que cada participante se sinta bem-vindo como um companheiro de movimento dentro da dança e da cultura, energizado pela paixão única de cada instrutor e inspirado a explorar os estilos que mais lhe tocaram, sejam apenas alguns ou todos.


Ao final do evento, queremos que sintam que este é apenas o começo — porque é:

1. O início das experiências Le Soro, com muitas outras por vir.

2. O começo de novos relacionamentos com pessoas que pensam da mesma forma.

3. Uma entrada fluida para abraçar a cultura e a dança africanas através do movimento, de uma forma que a região tri-estadual nunca viu antes.



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